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segunda-feira, 11 de setembro de 2017 - 19h30

O corpo da mulher é um espaço de luta - G>E de Peito Aberto

G>E de Peito Aberto com Gabriela Serfaty

O corpo da mulher é um espaço de luta

Podemos considerar a histeria uma patologia de protesto?
O corpo histérico, aquele que deveria se calar e manter suas insatisfações em segredo, é o corpo de uma mulher do século XIX a quem foi destinado o lugar de esposa, restrita aos cômodos íntimos. A histeria é a perda da mobilidade e da voz, a incapacidade de sair de casa. A paralisia desses corpos revela um gesto político. São cantos escondidos dentro de uma vida paralisada.
Há momentos em que os corpos precisam se quebrar, se decompor, ser despossuídos para que novos circuitos de afetos apareçam - esses modos de adoecimento psíquico têm um significado político dentro das normas que governam a construção histórica do gênero feminino. "As histéricas estão acusando, estão apontando, elas zombam da cultura" Diz Didi Huberman. E nesse teatro fazem do seu corpo um espetáculo. "A histeria é uma grande obra de arte".
As convulsões e as acrobracias eram o chamado "Grande ataque Histérico". Essas mulheres punham em cena seus corpos e desafiavam a moralidade vitoriana. O corpo destas pacientes entregam-se ao espetáculo sobre o olhar registrador de Charcot, médico que fundou em Salpetriêre o Serviço de Fotografia, criando uma iconografia desses corpos histéricos. Sendo objeto do olhar do outro, inventam um novo corpo. Há aí um desvio, algum protesto, algum zombaria, uma criação possível diante de tanta opressão que insiste em calá-lo. É preciso entender que no adoecimento do corpo feminino sempre há uma espessura política em forma de protesto, é importante saber escutá-la.

Organizado por G>E - Grupo de pesquisa em processos criativos e propostas estéticas e Casa do Povo